O futuro do trabalho em uma Era da Automação.

Embora todos os países e empresas estão em níveis de maturidade diferentes buscando maneiras de responder aos efeitos da automação, isso é especialmente crítico para os países em desenvolvimento – e nós nos encontramos neste grupo – pois serão os mais atingidos por terem menos capital e cultura de investimento em pesquisa e desenvolvimento e o maior número de recursos humanos envolvidos com tarefas manuais e transacionais.

Muito foi escrito sobre a ascensão da automação nos países desenvolvidos e , neste canal, sobre o impacto do profissional no custo administrativo. Neste momento economistas têm estado ocupados criando modelos que procuram quantificar o provável impacto da automação no emprego. No entanto, muito pouco tem sido escrito sobre os efeitos potenciais sobre o trabalho nos países em desenvolvimento. Isso é lamentável, dado que a automação pode ser especialmente problemática para as economias em desenvolvimento como a do Brasil.

Sabemos que o desenvolvimento do mercado gera crescimento econômico que traz mudanças significativas no mercado de trabalho pois exigirá maior qualificação e que as economias de muitos países em desenvolvimento se apoiam no trabalho manual e na mão-de-obra de cunho rotineiro ou transacionais de produção. Como alguns tipos de trabalho manual e rotineiro podem ser facilmente manipulados por robôs, computadores, máquinas programáveis e agora inteligência artificial, fica claro que a automação em larga escala pode ter efeitos significativos e de amplo alcance sobre os trabalhadores nos países em desenvolvimento, pois irá gerar um desbalanceamento de custos por preferência em manter produção nestes países como “ mão-de-obra barata”.

E, olhando internamente, caso esta visão não seja entendida, ou percebida, colocará o país cada vez mais na periferia das trincheiras econômicas de desenvolvimento. Exemplo, vamos comparar Brasil e Índia, enquanto na década de 90 a Índia era considerada o grande foco de mão-de-obra terceirizada barata para a onda dos CRM e call centers, o Brasil nem aparecia como candidato viável. Hoje, o Brasil é o país que possui o maior número de Centros de Serviços Compartilhados de empresas multinacionais na América Latina e a Índia é grande desenvolvedora de soluções de inteligência artificial para automação de rotinas. Quem está com a vantagem competitiva?

A questão aqui, espero ter ficado claro, não é o “quando”, mas o “como”. É fato que, por mais semelhantes possam ser alguns países e economias – a Índia não está tão melhor que o Brasil economicamente – o papel do trabalhador na sociedade está fortemente vinculado aos valores culturais e à disponibilidade de recursos. No caso do Brasil, nossos valores culturais, políticos e econômicos para desenvolvimento são muito baixos, e uma grande quantidade de recursos disponíveis, aproximadamente 220 milhões.

O Brasil passa por uma grande dicotomia, automatiza sua indústria ou gera emprego ao cidadão. Essa visão limitada, por falta de uma cultura de desenvolvimento alimenta um constante discurso de populista e de um estado inchado, como se os dois fossem resolver o problema, mas na verdade são a causa.

A visão da automação por meio dessa lente destaca a importância de não apenas modernizar as indústrias no Brasil, mas também garantir que as tarefas específicas que os trabalhadores executam nessas indústrias sejam modernizadas. A atualização das tarefas é importante por razões óbvias: As ocupações do futuro consistem em tarefas diferentes que exigem altos níveis de conhecimento e habilidade. Trabalhos que requerem habilidades interpessoais e criativas são relativamente fáceis para os humanos, mas são difíceis, se não impossíveis, para computadores, que são mais adequados para tarefas transacionais e analíticas bem definidas. Geralmente, ocupações que compreendem tarefas rotineiras ou de alto volume que podem ser automatizadas correrão mais riscos à medida que a tecnologia avança.

Algumas tendências já podem ser percebidas, os países que adotaram estratégias para melhorar a qualidade de sua infraestrutura, tem conseguido criar novas oportunidades de emprego. Por exemplo, quanto mais avançadas as estradas, rede elétrica, a internet e outros tipos de infraestrutura de um país, mais rápida e provável é a automação, logo novas oportunidades de trabalho e emprego com habilidades modernas. No entanto, a automação requer investimentos de capital, que podem ser limitados para empresas de países em desenvolvimento com estratégias de economia pouco desenvolvimentista, como caracteristicamente tem sido a do Brasil na última década. Em outras palavras, a falta de infraestrutura adequada pode proteger trabalhadores de baixa qualificação, reduzindo o impacto negativo no mercado de trabalho no curto prazo, mas em muitos casos comprometendo a produtividade geral de um país a longo prazo.

Hoje, num mundo acelerado e em transformação por uma pandemia global, é muito difícil entender como as empresas estrangeiras – e as nacionais – estão repensando suas estratégias de terceirização e automação. Para países em desenvolvimento quando comparam os custos de pessoal com os de automação, não é somente uma análise mais econômica ou social, é também de sobrevivência própria. Até que ponto estas empresas estão dispostas, ou não, pela substituição de humanos por máquinas.

Os países que sofrem com esta ameaça precisam rever suas políticas econômicas e educacionais para conseguir resultados satisfatórios a médio prazo – em 10 anos aproximadamente. À medida que os indivíduos adquirem mais conhecimento e experiência (seja através de cursos acadêmicos ou experiência), eles podem se tornar menos suscetíveis aos efeitos colaterais inevitáveis da automação.

por Carlos Magalhães – Xcellence & Co.
carlos.magalhaes@xcellence.com.br

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