Sua empresa é muito complexa para ser digital?

Não é fácil e por vários motivos, mas alguns líderes empresariais estão começando a repensar suas estratégias para aproveitar corretamente as tecnologias digitais disponíveis e já adquiridas e mal utilizadas em suas organizações. Eles visualizam interfaces omnichannel do cliente, ecossistemas de parceiros fortemente conectados e novas soluções para o cliente, aproveitando os dados recém-acessíveis. Muitos já até adquiriram estas soluções, mas intimamente sabem que não estão tirando o máximo proveito dos investimentos feitos e agora dos custos operacionais e administrativos.

As tecnologias digitais já estão mudando os limites das empresas de todos os ramos e, consequentemente, os cenários competitivos. Agora imagine as inovações que poderão advir com as provações que o covid-19 nos trouxe no dia-a-dia, que novos produtos e serviços podemos criar considerando a disponibilidade de informações, streaming de entretenimento, mobilidade pessoal, etc.

Uma estratégia digital sustentável não basta ter um business case com gráficos no powerpoint e na planilha Excel otimistas e “cases’ de outras empresas, para a grande maioria das empresas já estruturadas e operacionais, é mais provável que as deficiências e os vícios operacionais influenciem e pesem mais que o desejo do plano projetado. As empresas resultam de camadas de variabilidade – anos de novos processos operacionais e comerciais construídos ao lado de (e em cima de) sistemas legados permitindo diversas opções e maneiras de trabalhar. Esse tipo de variabilidade sem agregação de valor tornou muitas empresas complexas demais para ser capaz de adotar com plenitude uma estratégia com soluções digitais. Para resolver esse problema, os líderes empresariais devem atacar essa complexidade.

O meu sucesso gera complexidade…

A maioria das empresas começa com um conceito simples, porém, soluções bem-sucedidas rapidamente geram demandas por serviços expandidos, maior personalização e, finalmente, mais variabilidade de processos e caminhos. O que antes era uma visão simples e poderosa se torna complicado por várias opções. A demanda por variabilidade (isto é, complexidade) afeta apenas os bem-sucedidos. Em outras palavras, é um bom problema para ter. Gerenciar bem a complexidade, é uma vantagem competitiva, mas é necessário abraçar a complexidade que agrega valor e evitar a complexidade que não agrega.

Os líderes de negócios e tecnologia reconhecem o problema há pelo menos 20 anos. Muitas vezes, eles tentaram implementar novos sistemas para encobrir falhas de antigos legados e chegam a ter que lidar com um emaranhado confuso e complexo de sistemas, processos e dados críticos se interconectando…, este último, só que não. E pouca informação confiável e no tempo oportuno, este com certeza.

Eu sempre recomendo aos meus clientes foco e uma visão ponto-a-ponto de seu negócio. – Qual o processo fim de seu negócio e qual o seu foco em atender a expectativa do cliente – Isso, certamente envolverá o foco do processo que mais importa. Em outras palavras, simplificar seus negócios exige que você defina o processo de negócios mais essencial para a entrega da sua proposta de valor ao cliente.

Enquanto muitas empresas têm resultados frustrantes com transformações de negócios em larga escala, com vários grupos (as vezes ditos ágeis) dissonantes e projetos complexos outras estão se tornando digitais com sucesso resistindo à tentação de consertar vários processos principais simultaneamente. Em vez disso, eles se concentram em um processo.  Eles se concentram na essência do negócio.

Um exemplo bem conhecido no mundo dos administradores: A Lego cresceu e se tornou a maior empresa de brinquedos do mundo, não fabricando mais brinquedos, mas limpando sua cadeia de suprimentos. Isso ajudou a garantir a entrega dos brinquedos no momento desejado para cada um de seus clientes. Brinquedos inovadores e grande envolvimento do cliente são muito importantes para a Lego, mas a empresa não pode ter sucesso como uma empresa com uma cadeia de suprimentos não confiável.

Simplificar um negócio é difícil, mas essencial

Eliminar a complexidade que não agrega valor exige decisões difíceis.  Como no exemplo acima, a Lego exige a reutilização de seus tijolos e mini figuras existentes, em vez de permitir a “inovação de produtos” se o custo de criar, digamos, uma nova mini figura policial for maior do que o benefício de ter mais variedade de policiais (o que quase sempre é o caso).

Traduzindo, porque criar uma nova rota de processo, uma nova atividade, uma nova funcionalidade se o resultado não gerará maior valor do que o atual processo, atividade ou funcionalidade.

É aí que se esconde o segredo das grandes empresas, para muitas, é inovação, para estas empresas com visão digital é complexidade. Para se tornar realmente digital, as empresas precisarão identificar a essência de suas operações, simplificar, integrar e otimizar seus processos. Para que isto ocorra, uma mudança cultural e mental deverá ser implantada e velhos paradigmas e vícios jogados fora.

por Carlos Magalhães – Xcellence & Co.
carlos.magalhaes@xcellence.com.br

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