Não seja pego no meio das mudanças.

Às vezes, as mudanças acontecem tão rápido em nosso mundo que parece que não há lugar seguro para você ou sua organização se posicionar. Como você antecipa qual direção seguir? – considerando a estratégia da sua empresa ou a sua própria carreira – e quando um furacão arrasa o mundo do trabalho e não deixa rastros ou dicas para um caminho seguro? Você simplesmente não sabe que caminho seguir. E mesmo quando você toma uma decisão, o impiedoso relógio não pára; em breve você enfrentará uma nova ameaça de obsolescência, pois vivemos em um mundo digital em que a tecnologia se reinventa diariamente, em que as tecnologias se adaptam numa velocidade muito maior que a nossa capacidade de absorção. Como tenho dito a alguns anos, e também é uma lição aprendida, todos precisamos aceitar que a mudança é contínua; precisamos aprender a abraçar a mudança em vez de combatê-la. Da mesma forma, precisamos aceitar que não há refúgios seguros – para nós ou nossas empresas neste mercado em transformação. Simplesmente devemos estar preparados para continuar em movimento.

Mas o que quer que você faça a seguir, aonde quer que vá, não vá em direção ao conforto ou se esconda pensando que o tempo e a mudança não estão te vendo. É um momento ruim para ser um “transacional” – pelo menos no sentido literal da palavra.

À medida que os fabricantes de produtos procuram diminuir a distância daqueles que compram e usam esses produtos, à medida que as camadas da hierarquia de gerenciamento tradicional estão desaparecendo, à medida que o nós vale mais que o eu e o foco é atender o cliente, o valor percebido de uma função é cada vez mais encontrado nos extremos das cadeias de valor, e não no centro.

Houve uma época em que o “transacional” era um recurso indispensável. Os transacionais eram responsáveis pelo processamento de transações entre produtores e consumidores; eles interpretavam a estratégia corporativa de alto nível e a conectavam à execução da linha de frente; eles monitoravam e operavam; e eles detinham a chave para fechar as lacunas entre entidades desconectadas – as vezes até de propósito – para manter o fluxo operacional da organização integrada. Mas um por um, eles estão sendo substituídos – se não tornados obsoletos – pela tecnologia.

  • As plataformas digitais, dentro de provedores globais com infraestrutura escalável, segura e interconectadas, estão facilitando milhares de conexões diretas entre os lados tradicionalmente transacionais das entidades de valor no mercado: varejo, saúde, transporte, entretenimento, desenvolvimento de produtos etc.
  • Dentro das organizações, as tecnologias avançadas sistemas ERP implantado corretamente com os processos transacionais automatizados, com os fluxos de aprovação com workflows inteligentes e com assinatura eletrônica ou vistos digitais controlam tempos, compliance e limites de alçada. As demandas de entrada e solicitações a clientes ou de áreas internas ou parceiros terceiros têm prazos definidos para cumprimento de suas tarefas, através de SLAs – Acordos de Níveis de Serviços – sendo elas disparadas automaticamente paralelas ou em sequência de acordo com as regras de negócios e quando não cumpridas, alertas são encaminhados para as lideranças ou auditores responsáveis para suas providências e todo este processo é monitorado buscando identificar gargalos, latências ou desconexões para uma ação preventiva da TI. Esta não é uma visão de futuro, é uma realidade para empresas que implantaram corretamente sua arquitetura de negócio.
  • Novas tecnologias industriais, como a Rede de Suprimentos Digitais, eliminarão os elos soltos de toda a cadeia de suprimentos legada. Por exemplo, uma empresa que pode fazer uma peça de reposição necessária através da impressão 3D não precisa comprar essa peça de um distribuidor, ou o pedido é feito automaticamente ao fornecedor e a logística agenda a hora de retirada para entrega ao cliente e toda a gestão do ciclo de vida deste ecossistema será gerenciado por…pessoas – que buscarão continuamente analisar e melhorar seus processos, serviços e relacionamentos para cada vez mais aumentar a satisfação do cliente e diminuir o time-to-market.
  • Só agora estamos apenas arranhando a superfície da Internet das Coisas (IoT). A IoT promete aprofundar as conexões entre fabricantes e usuários finais de seus produtos como inventário e rastreabilidade ou sensores de equipamentos – e isso ameaça muitos transacionais tradicionais. Mas gera novas oportunidades também.
  • E se eu estivesse atuando envolvido com serviços financeiros, já estaria olhando o blockchain com muita ansiedade. Quem precisa do “intermediário confiável” quando a confiança já foi confirmada através da tecnologia blockchain?

Em grande parte da história da era industrial, foi considerado o valor dos transacionais (com a ajuda das planilhas Excel) como uma fonte de informação para tomada de decisão e ação. Modelos organizacionais hierárquicos foram construídos com base neste valor. Porém hoje, quanto mais nos aprofundamos nas organizações clássicas encontramos exemplo e mais exemplo de sua redundância, de sua dualidade quanto a informação, logo do conflito, da letargia ou até inercia para tomada de decisão. Ou seja, os transacionais passaram a ter o seu valor percebido como burocratas e não como criadores.

A maioria dos transacionais não desaparecerá da noite para o dia, mas já existem poucos modelos organizacionais que não podem suportar a remoção por atacado de camadas inteiras de gerenciamento ou processamento de uma só vez. Mas, a longo prazo, o gênero transacional pode se encontrar na lista de espécies ameaçadas no mundo do trabalho.

Os transacionais que perseverarem serão os que se adaptarem. Eles produzirão um valor único, acrescentando algo a uma transação ou relacionamento que é – pelo menos por um tempo – insubstituível: o SER humano, a capacidade única de criar, de pensar, de imaginar maneiras diferentes e inovadoras de atender um cliente ou melhorar seus processos da organização, de analisar números e tomar decisões inteligentes com base em suas boas e más experiências de vida e não em bases históricas do passado. Estes profissionais fornecerão uma ponte ou tradução entre duas partes – clientes e negócios – que, de outra forma, não seriam capazes de se relacionarem totalmente. Os transacionais se tornarão cada vez mais especialistas, oferecendo serviços personalizados muito raros para as partes que servem para justificar a construção de um novo tipo de profissional, o profissional preparado para o futuro digital.

Mas, quanto ao resto, para os jogadores transacionais que existem e resistem à tradição e não acreditam na mudança e na insubstituibilidade – para estes, o futuro não será bom.

por Carlos Magalhães – Xcellence & Co.
carlos.magalhaes@xcellence.com.br