Em maio deste ano, escrevi uma matéria sobre os impactos do COVID na saúde das pessoas porquê de uma hora para outra fomos isolados socialmente, fisicamente, forçados a mudar hábitos e consumos, perdemos acessos aos relacionamentos interpessoais – jantares, festas, enterros – que tínhamos e perdemos também, o contato com nosso “espaço” interno. Nos tornamos confinados como peixes no aquário, pássaros nas gaiolas, hamsters na jaula (comparação e reflexão interessante…). Hoje temos de conviver dentro de nossas casas – seja a metragem que for – com trabalho, o convívio social familiar, educacional e de lazer do(s) filho(s), ideias, vícios, tiques, cacoetes, egos, humores, decepções, raivas, ansiedades e em alguns lamentáveis casos com as doenças pré existentes ao COVID-19 – e algumas tiveram seus atendimentos desmobilizados, interrompidos para priorizar as vítimas do vírus, mas também era importante a não descontinuidade ao tratamento para garantir seu controle ou evolução, pois há doenças que não esperam. E, fatalmente virá o desemprego (ou sua constante sombra) ou a falência dos micros e médios empresários: que são pessoas provedores de alguma maneira de famílias e sentem-se responsáveis por outras. Por fim, todos serão afetados em sua saúde física e mental. Ufa!! Que stress…

Observado meu filho fazendo uma prova, vi sua “sofrência” para responder ao questionamento sobre o significado da palavra “deboísmo” – pensei: outra doença? Mas é uma prova de gramática!!!. Movido pelo bichinho da curiosidade lá fui eu procurar no Doutor Guru Sabe Tudo: Google, o significado da palavra.

O termo deboísmo surgiu em 2014, quando a tanatopraxista – procedimento que consiste na preparação de um cadáver para o velório ou funeral, assim o corpo não sofrerá, pelo tempo solicitado pelos familiares, a decomposição natural – Jéssica Loli (pensei de imediato: droga, é doença) estava cansada de ver suas colegas feministas brigando entre si por motivos fúteis. Para tentar dar uma acalmada nas mágoas geradas nos grupos feministas do Facebook, ela criou, meio que na brincadeira, o termo “deboísta”. Pouco depois, surgiu a página Feminismo Deboísta, uma espécie de agremiação pacificadora entre mulheres, com o objetivo de convidar seu grupo a “estar de boas”. Para complementar ela adotou como mascote, o bicho preguiça.

Bom, como geralmente o melhor e o pior da internet é a criatividade (ou falta de) do brasileiro, é óbvio que se tornou viral, principalmente depois que o Ministério do Trabalho e Emprego (ou algum marqueteiro inocente), naquela época fez um post mencionando o deboísmo (com a publicação de um desenho do bicho-preguiça) para evitar picuinhas no ambiente de trabalho – a postagem, é obvio, virou meme, gerando comentários do tipo “que faltava trabalho e sobrava deboísmo no ministério”, recomendando que eles “mantivessem o emprego, pois se perdessem não conseguiriam trabalhar fora de lá, e que era “debochismo” com a população.

Reflexos de um país insatisfeito com os privilégios de seus governantes e carências de sua sociedade, mas este é um assunto para outro ensaio.

A intensão neste é o “deboísmo” em tempos de COVID-19.A intensão era e é boa, para enfrentar as angustias da situação causada pelo COVID-19 e pela falta de direcionamento e visão de futuro, aliada a necessidade de isolamento e stress causada pela constante sombra de perda de emprego dentre outros temores, o manifesto do “Deboísmo” indica o caminho:

“Deboísmo é um estilo de vida. Ser de boa não significa ser inerte ao mundo, significa ser ponderado. Calma e paciência e o mundo se tornará um lugar melhor. Ser de boa não significa não debater, não significa se calar perante as injustiças. Significa não ofender as pessoas, argumentar de maneira lógica e sensata, sempre respeitando os direitos humanos. Ser de boa significa deixar uma discussão acabar mesmo sem convencer o inimigo, mesmo se ele partir para ofensas, pois em todo bom debate uma ideia é plantada e eventualmente o sujeito voltará a pensar sobre o assunto. Significa, em suma, ser de boas.”

Então vamos aproveitar este manifesto e transformá-lo no Manual do Deboísta do Isolamento da “Era Covidiana”.

Adaptando o que alguém – este também bem intencionado – criou, segue os 10 mandamentos para o deboísta da “Era Covidiana”.

  1. Mantenha sua mente e coração abertos

Uma opinião diferente da sua não precisa necessariamente ser interpretada como contrária. Experimente entendê-la, argumentar e reconhecê-la como troca de ideias, experiências, ou descarte, se lhe for muito estranha, mas mantenha a civilidade e harmonia.

  1. Foco nas ideias
    Não critique as pessoas, critique as ideias. E seja explícito ao fazer isso. Ninguém é obrigado a adivinhar seus pensamentos, mas compartilha-los pode ajudar ambos a resolver um problema.
  2. Foque na solução 1
    Não perca tempo procurando argumentos para justificar por que as coisas não estão funcionando “do seu jeito”. Em sistemas vivos, descobrir por que algo não está funcionando não vai, necessariamente, fazer que volte a funcionar. Pior, só vai lhe criar uma boa desculpa para não resolver o problema.
  3. Foque na solução 2
    Quanto mais tempo você se concentrar no erro, mais você se afastará da solução. Em uma época que ainda temos dificuldade em entender o que é certo ou errado e qual o caminho a seguir, como etapas naturais de um processo de aprendizagem, pensar, falar, viver o erro só lhe fará sentir-se culpado e deprimido
  4. Conecte-se com o lado da força padawan
    Deu ruim, a tendência é ir direto para a escuridão. E lá vamos nós de novo descendo a ladeira do “ó vida, ó céus, ó azar, ó vida severina…”. Deu ruim? Pergunte-se pelos talentos, pelas fortalezas, pelas competências já instaladas. Para superar um desafio, o que é melhor: sentir-se frágil e incompetente ou fortalecido e poderoso? A regra vale – e muito – para uma conversa sobre desempenho. Se você quer alguém da sua equipe performando melhor, ajude-o a conectar-se com o que ela ou ele tem de melhor e não o sufoque com seu poder Sith. (se alguém não entendeu essa, tá vendo muito Senhor dos Anéis e GoT, nota 5 para graduação Geek)
  5. Ressurja, reinvente-se na crise
    A história da evolução das espécies é marcada por crises. Algumas espécies sucumbem, enquanto outras, as mais flexíveis e que mais rapidamente se adaptam às mudanças do ambiente em que vivem, evoluem. Em resumo: sem crise, sem energia para mudar. Olhe, portanto, para a crise como a oportunidade que o sistema do qual você faz parte precisa para evoluir. Não vai ser um viruzinho que vai te derrubar, certo?
  6. Olhe além da crise
    Esta crise é apenas uma dentre tantas que você já passou e que ainda surgirão. O nome técnico dado ao resultado de uma grande quantidade de estresse que excede a capacidade de enfrentamento ou de integrar as emoções envolvidas nessa experiência é trauma. Evite cair nesta armadilha psicológica e converse com seu Jedi. Evite a Síndrome de Pollyanna, que só consegue perceber o que está bem e a Síndrome da Gabriela, que acha que você nasceu assim e vai morrer assim. Como naquela música do Barão Vermelho, “que você descubra que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero.”
  7. Use sua inteligência: escute seu Yoda interior!
    Se você não é nem onisciente nem onipresente, escutar com atenção e ter curiosidade genuína no que o outro está vendo não é apenas um gesto de educação, é uma demonstração de inteligência.
  8. Aprenda a relaxar
    A natureza é sábia e manda recados – nós é que insistimos em não ver, por isso estamos na lama. Quando você está submetido à pressão extrema, seu sistema nervoso interpreta que sua vida está sob ameaça. O sangue migra para as extremidades, para os músculos e seu cérebro fica oxigenado apenas para garantir que você continue respirando. Pensar? Nem tenta, não somos seres racionais ainda. Reagiremos como qualquer ser do reino animal: lutar, fugir ou se fingir de morto (congelar). A boa notícia é que você pode ajudar seu organismo a operar sem esforço novamente e você não precisa ser nenhum guru para aprender a relaxar. Fique apenas atento aos sinais: coração disparou? Frio na barriga? Respire, vá escutar uma música – do tipo relaxante, beber uma, água, brincar com o(a)s filho(a)s, afofar o pet, fazer jardinagem, assistir TV ( quem não entendeu o mandamento 5, é uma boa oportunidade de assistir a saga). Ou vá dar uma volta no quarteirão – com máscara de proteção. Simplesmente interrompa o ciclo vicioso e angustiante que está naquele momento deixando seu organismo sob stress intenso e, que a longo prazo, vai lhe adoecer, seja no corpo ou no espírito, e pode irradiar para os seus próximos.
  9. Siga a Dory

“Quando a vida te decepciona, qual é a solução? Continue a nadar! Continue a nadar! Continue a nadar, nadar, nadar! Para achar a solução, nadar, nadar!” Por mais simples e inocente que isso possa parecer, é uma realidade que devemos continuar as nossas vidas, apesar dos problemas. A vida decepciona muitas vezes, e a solução é continuar vivendo e seguindo (nadar, nadar). Esse é um lema para não desistir. “Continue a Nadar” mostra que a gente não pode desistir e que temos que seguir adiante.

Direitos Autorais: Disney Pixar Finding Dory – 2016

por Carlos Magalhães – Xcellence & Co.

carlos.magalhaes@xcellence.com.br

Xcellence & Co.

Transformar suas Ideias em Valor, mas também ajudá-los a Superar seus Desafios, SEMPRE.