Os impactos do COVID-19 na saúde da sociedade e do trabalhador sobre o futuro do trabalho.

Cada geração tem suas peculiaridades, e é normal que uma quebre estereótipos da imediatamente anterior. Os baby boomers, nascidos de 1940 a 1959, tiveram sua forma de pensar moldada no período do pós-Segunda Grande Guerra. São idealistas, revolucionários e coletivos, e isso reflete num consumo mais ideológico. A geração X (de 1960 a 1979) – geração Coca-Cola – adorava marcas e sonhava em fazer carreira em grandes multinacionais e bancos de investimento, são materialistas, individualistas e competitivos, adoravam marcas e símbolos de status. Os Ys ou millennials (de 1980 a 1995), como resposta, detestam marcas, mas tem interesses em experiências e facilidades – e também não queriam saber de fazer carreira – é a geração conhecida nas organizações como: no primeiro dia de estágio perguntava “ quando vou ser diretor?” e o gerente no corredor dizia: “ não posso chamar a atenção dele porque vai embora”. Os Zs são a primeira geração nascida dentro de um mundo online e móvel e retomam um engajamento social de gerações anteriores. “Todos antes dos millennials, inclusive eles, são adaptados ao mundo digital. Os Zs nasceram com tudo a um clique e não veem muito sentido nas barreiras entre online e offline” – eu até brinco com todo mundo – “assisti ao nascimento do meu filho, ele já veio abraçado no tablet”. E neste equipamento o desapego à posse é bem explicado através do sucesso dos conceitos de empresas como Uber, Netflix e Spotify, BnB, etc. Os Zs também não veem problema em gostar de marcas ou em fazer carreira, desde que os produtos e as empresas sejam condizentes com sua visão de mundo. Aliás é uma das características da geração z: a busca por autenticidade e proximidade, por isso os influenciadores digitais fizeram fama e fortuna em ferramentas como Instagram e Facebook. Mas, com a chegada do COVID-19 todo mundo faz Lives, Webinares e tanta informação fake, conflitiva e contraditória tem trazido a esta geração uma característica peculiar dos Boomers e Xs, a ansiedade.

As gerações millenials e Z são as nossas mais novas gerações de trabalhadores, são os queridinhos das empresas, o foco da gestão dos departamentos de marketing e de recursos humanos que gastam fortunas e orçamentos para descobrir o melhor jeito de se comunicar, contratar e, sobretudo, vender suas empresas e produtos para a faixa etária mais influente e inspiradora da história, mas que já estão sofrendo… De acordo com vários indicadores e pesquisas, com níveis muito mais altos de depressão e ansiedade. Este é um fenômeno agora que precisa da atenção de empregadores de governantes.

As políticas Assistenciais sejam no campo privado ou público, tem foco em benefícios voltados a programas de saúde e segurança a funcionários ou tipo de atendimento considerado atenção primária, o que significa que não impedirá que um funcionário e sua família não desenvolvam outras doenças “não visíveis”. Mas com profundos impactos em ROI (retorno sob investimento). Esse ROI pode ser medido de várias maneiras: taxas de absenteísmo por diversas causas e motivos e cada um com seus custos específicos, taxas de produtividade, super-demanda do sistema público de saúde em ambulatórios e hospitais e taxas de mortalidade por suicídios, drogas e afins. Originados por indicadores modernos (mas nem tanto assim) como: alcoolismo, estresse pós-traumático de algum evento social, depressão, drogas, doenças pré-existentes, tendências familiares, e por aí segue uma lista que profissionais dedicados de saúde poderiam realmente elencar porque muitas das assistências hoje realizadas são reativas e poderiam ser evitadas. A questão mais relevante é que a boa saúde mental além dos indicadores sociais e humanos tem um ROI enorme, é um dinheiro que poderia estar sendo melhor gasto, com melhor retorno para a empresa e para a sociedade.

Mas o que realmente nos impede, como área de saúde e segurança do trabalho e sistema de saúde, de investir nestes indicadores. Resposta simples: não levam em consideração sua proposta de valor: a causa e as consequências da menor incapacidade, do menor presenteísmo e do menor absenteísmo. Não são avaliados em métricas, mas são sempre coletados e descartados em exames de saúde ocupacional ou renovação de atestados de trabalhos, os agentes e profissionais de RH não avaliam a relação disso. E, portanto, eles não estão dando aos empregadores e à população o tipo de produto que eles deveriam receber. Talvez o COVID – 19 explicite isso a gestores de empresas e governantes – se você nunca pensou nisso dessa maneira, talvez seja importante você começar a pensar.

E precisamos incluir a família. De uma hora para outra fomos isolados socialmente, fisicamente, forçados a mudar hábitos e consumos, perdemos acessos às redes de relacionamentos que tínhamos seja de lazer, saúde, educação porque ainda estão desativados, perdemos também por outro lado, o contato com nosso “espaço” interno. Nos tornamos confinados como peixes no aquário, pássaros nas gaiolas, hamsters na jaula (comparação e reflexão interessante – mas para um outro ensaio). Hoje temos de conviver dentro de nossas casas – seja a metragem que for – com trabalho, o convívio social familiar, educacional e de lazer do(s) filho(s), ideias, vícios, tiques, cacoetes, humores, egos, humores, decepções, raivas, ansiedades e em alguns lamentáveis casos com as doenças pré existentes ao COVID-19 – e algumas tiveram seus atendimentos desmobilizados, interrompidos para priorizar as vítimas do vírus, mas também era importante a não descontinuidade ao tratamento para garantir seu controle ou evolução, pois há doenças que não esperam. E, fatalmente virá o desemprego (ou sua constante sombra) ou a falência dos micros e médios empresários: que são pessoas provedores de alguma maneira de famílias e sentem-se responsáveis por outras. Por fim, todos serão afetados em sua saúde física e mental. Isso é algo que geralmente pensamos de maneira individual, mas estes eventos se manifestam na comunidade ou no trabalho e na família. E esses indicadores nunca foram medidos, e certamente vão transbordar em custos para a sociedade e para as organizações.

É claro que essa solução e indicador não trará resultados da noite para o dia, mas a melhor chance é começar agora, veremos os dividendos a longo prazo para o nosso país em menor justiça criminal, menores custos com assistência médica, menores custos no local de trabalho e menores custos sociais. Mas nós apenas temos que mapear tudo isso. Não esconder ou passar para o próximo.

Hoje temos a tecnologia analítica para coletar, classificar e entender todas as causas e consequências e começar a fazer esse trabalho duro e sério para colher os resultados no mais próximo futuro possível, pois hoje o futuro já é amanhã com suas novas notícias, impactos e consequências.

Em certo sentido, podemos separar o efeito do vírus na saúde de seu contraente da enorme devastação e tragédia que o vírus está causando a todos de uma forma social ou emocional. Seja pela perda de um ente querido, pela perda de um emprego, pelo desaparecimento de uma carreira ou negócio, ou pela insegurança econômica. E como todo esse trauma social se manifestará em taxas mais altas de incapacidade, ansiedade e depressão, como poderá evoluir para doenças do corpo físico e em última análise em suicídios, fugas por drogas, violência, intolerância e morte.

Está claro, entre as várias versões de comunicação que não temos diques para barrar o COVID-19, não os construímos e aqueles que dizem que fizeram, provavelmente fizeram malfeito, porque os gráficos continuam subindo e continuarão, até ações que ataquem as causas sejam feitas. Precisamos nos preparar agora da maneira que não estávamos preparados para o COVID-19.

Eu realmente vejo esse COVID-19 menos como um vírus, em sua totalidade e mais como um ponto de virada na maneira como reagimos a emergências seja organizacional, seja de saúde pública.

por Carlos Magalhães – Xcellence & Co.
carlos.magalhaes@xcellence.com.br

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